Perdoa se te descobrimos e te retalhamos. Não é por desrespeito que te descobrimos, nem por ódio que te retalhamos. Teu corpo nú é para nós símbolo da pureza de nosso ideal, do respeito ao ser humano.
Cada vez que te cortamos é por amor à humanidade enferma, que depende do teu corpo nos ensinar para que possamos diminuir a sua dor, levar-lhe ao menos uma esperança de saúde. Perdoa meu irmão.
Perdoa se os sonhos que tivestes de ser alguém um dia, não se realizaram. Se ao invés de um túmulo com teu nome gravado, coberto de flores, vieste parar aqui, nessa mesa fria, anônimo, sem flores, sem saudades.
Perdoa a sociedade em que viveste, se ela não te proporcionou a oportunidade a que tinhas direito. As glórias que teu trabalho não te deu em vida, tú as tem agora. de ti nós dependemos para ser alguém. Tu que talvez mal soubeste ler vai nos ensinar anatomia.
Tú que em vida não era valorizado, és um tesouro. Compreende o teu papel, vê o pedestal em que colocamos, presta atenção na brancura de nossos aventais, no temor emocionado de nossas mãos inexperientes, no olhar de piedade e de amor com que te olhamos.
Vê esta platéia jovem, ávida de saber para poder servir à humanidade, contando contigo para a ajudar. E tú, tú és mais generoso do que o milionário que dá migalhas de seu banquete para matar a fome de crianças pobres. "
Tú que nem nome tens, vens dar teu corpo em holocausto à ciência, vens dar a sagrada esmola de teu próprio corpo para que retalhado qual relíquia de um santo, possa fazer o milagre de curar"